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PLURAL: os textos de Marcio Felipe Medeiros e Rogério Koff


Eleições dos EUA e o Brasil
Marcio Felipe Medeiros
Sociólogo e professor universitário

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Antes de adentrar nos efeitos de uma possível vitória do candidato democrata Joe Biden, é importante tecer algumas considerações sobre o contexto político que norteia esta eleição. Mais do que um alinhamento ideológico, a relação entre Brasil e EUA é construída a partir de interesses políticos e econômicos. O Brasil, enquanto maior país da américa do Sul e maior economia do continente, goza de alguma importância dentro do cenário geopolítico mundial.

Podemos verificar a importância através de algumas ofensas e conflitos originados pelo governo federal, proferidos à políticos Europeus e Chineses, no qual o governo federal retrocedeu após alguma pressão, e os alvos dos ataques ignoram, momentaneamente, as falas. Perdemos espaço da geopolítica internacional, somos pouco escutados nos acordos internacionais, mas não sofremos grandes retaliações. O mesmo deve ocorrer nos EUA, com o atual presidente.

COMUNISTA OU SOCIALISTA?

Tenho escutado, com algum espanto, pessoas dizendo que o partido democrata é comunista ou socialista. Vamos aos fatos. A sociedade norte-americana está alicerçada sob os pilares do liberalismo em seu sentido mais estrito. O respeito ao individualismo é soberano e está presente em todos os artigos da constituição. Embora os EUA seja um país pluripartidário, os dois partidos que congregam a maioria esmagadora dos votos, notoriamente os Republicanos e Democratas, não podem ser taxado de comunista ou socialista. São partidos liberais, que apresentam ideologias distintas, com modelos de gestão do governo diferentes, e apenas isto.

Portanto, os Democratas ganharem a eleição não significa que os EUA virarão comunistas, como aparecem em algumas fake news por aí. Significa apenas que haverá uma alteração de direcionamento político com maior intervenção do Estado na economia interna, além de novos alinhamentos internacionais.

TEMAS SENSÍVEIS PARA O BRASIL

Caso eleito, Jon Biden poderá trazer algumas consequências para o Brasil, sim. Alguns temas sensíveis, como a Amazônia, devem voltar a ser pauta internacional e gerar algum desconforto para o governo, e eventualmente, alguma barreira sanitária para produtos que venham de regiões próximas à floresta. Potencialmente, teremos alguma alteração na política internacional, visto que, segundo as palavras de Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, somos um pária internacional. Entretanto, éramos párias como apoio dos EUA pelo alinhamento ideológico, o que não se confirma na atual conjuntura, ou seja, a voz do Brasil no cenário internacional praticamente não será escutada.

Fora a questão amazônica, que pode ter algum impacto econômico para o Brasil, estamos no meio da disputa da tecnologia 5G para tráfego de dados via dispositivos móveis. Existe atualmente uma briga entre EUA e China para ver quem entrará primeiro em solo brasileiro. O presidente terá que decidir qual desafeto ideológico irá escolher.

O ópio dos intelectuais
Rogério Koff
Professor universitário

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Na semana passada, um jornalista perguntou a certa candidata à prefeitura de Porto Alegre vinculada ao Partido Comunista do Brasil: "Qual é o comunismo que você defende? O chinês ou o cubano"? E ela respondeu: "Nenhum dos dois. O meu comunismo é o que vamos construir juntos no Brasil". Pelo visto, a candidata fecha os olhos para os milhões de assassinatos perpetrados pelos regimes comunistas ao longo do século 20. Mais de 30 anos após a queda do Muro de Berlim, ainda temos representantes de uma elite que se orgulham de ser comunistas. Falo em elite porque não conheço comunista pobre. Só conheço comunistas ricos ou na classe média alta, sejam eles intelectuais, artistas, professores e políticos. Eles acreditam ter a missão de serem os mentores espirituais da classe trabalhadora. São arrogantes, porque pensam que os pobres são alienados.

Os menos favorecidos, no entanto, gostam mesmo é do capitalismo. Eles sonham vencer na vida, conseguir um emprego melhor ou comprar um presente de Natal para os filhos. Quem estuda história sabe que o próprio Lênin era um crítico feroz dos sindicatos pragmáticos de trabalhadores que lutavam por melhorias salariais para seus filiados. Se conseguissem sucesso nas negociações com a classe patronal, a revolução iria para o brejo.

RAYMOND ARON

O tema foi explorado pelo pensador francês Raymond Aron (1905-1983) em um livro de 1954 chamado "O ópio dos Intelectuais". Estamos diante de um interessante trocadilho com a crendice defendida por Karl Marx no sentido de que a religião era o ópio do povo. O leitor pode fazer uma comparação entre as teses marxistas contra a religião e as recentes depredações de igrejas protagonizadas por militantes de esquerda no Chile.

Mas voltemos a Aron. Ele foi corajoso ao contestar a maioria dos intelectuais de seu tempo, para os quais os proletários eram originalmente alienados e precisavam ser despertos de seu sono profundo para que pudessem realizar sua missão revolucionária. Porém, para Aron aquilo que Marx definiu como a "classe operária" simplesmente não existe; é uma mistificação criada pela teoria marxista e defendida apenas por intelectuais de esquerda privilegiados.

O autor escreveu: "O comunismo é uma versão degradada da mensagem ocidental. Retém a ambição de conquista da natureza e de melhoria da sorte dos humildes, mas sacrifica o que foi e permanece sendo a alma da aventura indefinida: a liberdade de pesquisa, a liberdade de debate, a liberdade de crítica e de voto do cidadão". Por ter tido a audácia de apontar isso em uma época na qual filósofos, escritores e artistas negavam os crimes praticados pelo regime comunista totalitário da União Soviética, Aron foi um pensador diferenciado, uma espécie de lobo solitário que ousou defender as liberdades humanas fundamentais. Indico, com ênfase, este ótimo livro.


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